Apesar de o título soar um pouco clichê e contraditório para alguns, o conteúdo é de grande riqueza, o qual abrange argumentos de Filosofia, Física, Biologia e outras áreas da ciência. Ainda ateu, Flew ressuscitou o teísmo racional; com a necessidade de defesa, filósofos cristãos ressuscitaram uma área da religião que há tempos não tinha nenhum progresso: a filosofia.
O livro é dividido em duas partes. Na primeira, intitulada “Minha negação do divino”, o autor revela em três capítulos sua caminhada desde a infância até sua escolha pelo ateísmo; sua criação em um colégio metodista; a influência do pai também pastor e sua posterior escolha pelo ateísmo. É sincero ao tomar a postura de que nunca teve uma única experiência considerada sobrenatural e nenhum interesse por religião: “Ir à capela ou à igreja, recitar orações e praticar outros atos religiosos eram, para mim, quase apenas deveres cansativos“¹; O livro também explicita que o problema do mal visto através do resultado da Segunda Guerra Mundial teve papel importante em suas escolhas.
Quando entra na faculdade em Oxford, Flew tem o privilégio de participar do Socratic Club, clube presidido por C.S Lewis, o “mais eficiente defensor do cristianismo da segunda metade do século XX“², segundo o filósofo. A partir do contato com esse grupo e principalmente com o argumento socrático máximo do clube (“Devemos seguir o argumento até onde ele nos levar“), Flew começa a questionar argumentos, até então estáticos, de filósofos como Locke, Hume, Kant e Russell. Avança, assim, na discussão da filosofia em um contexto geral e mais a frente nos argumentos ateus. Seus livros abordavam a questão do teísmo com grande abrangência; os argumentos não eram únicos, se utilizava do problema do mal, do determinismo, do ônus da prova da existência ou não de uma entidade superior, da causa inicial, de uma inteligência superior e vários outros argumentos históricos e científicos.
Já na segunda parte, denominada “Minha descoberta do divino”, as idéias, antes utilizadas para o ateísmo de forma até então irrefutável para alguns, são esmiuçadas de maneira racional no sentido real da palavra. A proposição de que somente com a razão é possível aprender sobre a existência e a natureza de Deus é retomada, nas palavras do próprio autor: “Eu também não alego ter tido qualquer experiência pessoal a respeito de Deus nem do que pode ser descrito como sobrenatural ou miraculoso. Resumindo, minha descoberta do Divino tem sido uma peregrinação da razão, não da f铳.
O uso de argumentos científicos é abundante para a prova de que há uma inteligência superior. A Cosmologia e a Física são duas áreas bastante abordadas nesse ponto, pois expõem a origem do Universo e remontam aos mais variados argumentos da existência de um ser criativo superior, considerado divino. Richard Dawkins, atualmente conhecido pelo best-seller Deus, um delírio, é duramente criticado pelo uso parcial dos argumentos da Biologia. O problema filosófico da definição do nada (nihil), abordado por Niestchze, também encontra contestação ao longo dos últimos capítulos o qual leva em consideração também a teleologia.
Por fim, dois apêndices enriquecem mais ainda o conteúdo do livro: o apêndice A é uma crítica ao chamado “novo ateísmo”, escrita por Roy Abraham Varghese e que também leva a autoria do prefácio. A abordagem é baseada em cinco pontos pelos quais o novo ateísmo não consegue explicar, são eles: a racionalidade, a vida, a consciência, o pensamento e o ser; já o apêndice B aborda o aspecto cristão do livro, é um diálogo travado entre Antony Flew e N.T. Wright, uma das maiores autoridades no estudo do Novo Testamento. Questionamentos sobre a existência de Cristo e sua ressurreição são bem respondidas e levam a uma curiosidade maior para o estudo da história de Cristo.
Um ateu garante: Deus existe, é um livro que aborda, não de forma aprofundada, o que seria impossível, ou seja, vários aspectos da antiga discussão entre teístas e ateístas, colocando novos rumos nos argumentos e propondo novos caminhos e maneiras de pensar.