Pais que esperam demais
Eles têm expectativas exageradas acerca de comportamentos e realizações das quais os filhos sejam capazes em sua idade. Às vezes esses pais reclamam que os filhos choram “sem motivo” ou que deixam os pais nervosos. Em geral estão convencidos de que as crianças deliberadamente provocam uma agressão: “Ele sabe que isso me deixa louco, mas faz assim mesmo!”

Pais com atitudes negativas para com os filhos
Negar que a criança esteja doente ou sinta algum desconforto é comum nesse caso. Os pais não parecem preocupados com as necessidades básicas dos filhos, que com freqüência aparentam ser negligenciados. Os pais expressam o temor de que um dos filhos, ao crescer, se torne “mau”, a menos que seja severamente punido. Então essa criança serve de bode expiatório e se torna alvo de agressões. A criança é vista como uma decepção, diferente, esquisita.

Fatores adicionais a serem observados
1. O isolamento social se observa quando a criança quase nunca está com os pais, e estes também se conservam à distância da companhia dos outros, às vezes explicando essa atitude como tendo o objetivo de afastá-los de más influências. Os pais parecem ter dificuldade para relacionar-se com os filhos quando há outras pessoas por perto.
2. Os pais são negativos a respeito de si mesmos, apresentam desculpas e às vezes são defensivos. Aparentam ter um conceito próprio muito fraco.
3. Os pais às vezes falam acerca de sua própria criação como tendo sido severa e geralmente repetem que isso não lhes fez mal, mas era justamente a maneira como necessitavam ser tratados. Em outras ocasiões, expressam medo de poder machucar os filhos.
4. Há pais que admitem que seu relacionamento com os próprios pais não foi bom. Embora a violência física não estivesse presente, isso pode indicar que ocorria violência emocional.
5. A ira dos pais contra as crianças parece desproporcional ao comportamento que os fez reagir.

Conversa com crianças quando há suspeita de abuso
A maioria das crianças precisa sentir-se segura e confiante antes de se dispor a conversar com alguém que está procurando ajudá-las. Uma forma de proceder bondosa, agradável e sem pressa será importante para obter essa confiança. Em lugar de sentar-se de frente para a criança, o que parece uma confrontação, sugere-se que a pessoa se sente ao lado dela. Às vezes fazer alguma coisa durante a conversa tira a tensão do diálogo e produz uma atmosfera mais descontraída. Isso pode incluir coisas como colorir, brincar com argila ou segurar um bichinho de pelúcia. Aqui vão mais algumas sugestões para uma conversa eficaz:

1. Usar um tom de voz baixo e aconchegante. Uma voz forte dá a impressão de que alguém fez algo errado.
2. Funcionam melhor as frases curtas, com palavras fáceis de entender. Troque esta frase: “Havia outras crianças junto quando você entrou na caminhonete vermelha do Sr. Sales para ir à casa dele na semana passada?” por esta: “Conte alguma coisa sobre a caminhonete do Sr. Sales. Você estava sozinho(a)?” Espere a resposta de cada pergunta antes de prosseguir. As crianças só conseguem formular uma resposta de cada vez.
3. É melhor colocar as perguntas em ordem, da mais fácil para a mais difícil. Por exemplo: usar perguntas começando com onde, quando, quem e como, antes de falar exatamente sobre o que aconteceu. As perguntas que iniciam com “por quê?” parecem acusadoras (Por que você foi com ele?) e devem ser omitidas.
4. Não dê a impressão de estar julgando e condenando, se quiser que a criança continue a falar. “Se você tivesse sido mais cauteloso(a) como nós mandamos, isso não teria acontecido!” – é um tipo de frase sem compaixão e até mesmo inadequada.
5. Fique alerta a possíveis problemas quando a criança faz comentários que indicam medo de certas pessoas ou dão a entender que não gostam de estar perto delas. Pistas que indiquem que há turbulência em casa também podem requerer investigação.
6. Perguntas como: “Seu pai não iria machucar você, não é mesmo?” ou “Mas isso aconteceu de verdade?” indicam dúvida e não estimulam uma resposta sincera.
7. Se a pessoa que pode ser o agressor se encontra no mesmo recinto, observe se a criança fica olhando para a pessoa esperando aprovação antes de responder. Isso pode ser um indício de que a criança tem medo de responder com franqueza.

Cautela: Não tire conclusões a partir de uma ou duas pistas apenas. Avalie suas observações e aquilo que você ouve, junto com a linguagem corporal. Compare todos os dados e atue com base naquilo que parece contraditório e suspeito.

Disciplina e punição
A maioria dos pais tem um profundo desejo de fazer o que é correto. Desejam verdadeiramente criar seus filhos na doutrina e admoestação do Senhor. Por vezes há um mal-entendido acerca dessa admoestação e em que consiste. A disciplina é confundida com punição, embora não sejam a mesma coisa. Falando de modo simples, a disciplina estabelece limites para o comportamento e procura induzir comportamentos desejáveis, enquanto a punição deliberadamente inflige dor ou desconforto com a intenção de conseguir mudança de comportamento. As duas são mais especificamente contrastadas a seguir:

1. A disciplina envolve pensamento, planejamento e explicação; a punição pensa muito pouco e com freqüência é uma reação quase automática.
2. Em geral a disciplina é aplicada calmamente; a punição é com muita freqüência aplicada no calor da emoção.
3. A disciplina apresenta escolhas à criança; a punição é aplicada conforme a vontade dos pais – a criança é passiva. Na verdade, costuma acontecer de o pai rejeitar explicações e razões que a criança queira apresentar.
4. A disciplina tem como alvo ensinar, e é orientada para o futuro; a punição espera concordância naquele momento.
5. A disciplina recompensa o bom comportamento; a punição ameaça o mau comportamento.
6. Um pai que disciplina está disposto a ser um exemplo; um pai que castiga raramente desejaria ser usado como modelo enquanto aplica a punição.
7. A disciplina busca estabelecer um novo padrão de comportamento que pode ser generalizado para outras situações; a punição usa a mesma medida para qualquer tipo de desobediência; não há relação entre o castigo e a transgressão.
8. A disciplina não faz com que a criança se sinta rejeitada; a punição freqüentemente faz.
9. A disciplina envolve tempo; a punição pode ser ministrada rapidamente.
10. A disciplina envolve comunicação verbal, e assim reforça a ligação entre pai e filho; a punição é aplicada como uma comunicação de mão única, se houver, e pouco faz para ligar um ao outro com afeição.

Se você está procurando ser mais eficiente em auxiliar os filhos a amadurecerem na família de Deus, estas mensagens dadas a outros pais podem ser muito úteis.

“O constante censurar e açoitar, endurece as crianças, e aliena-as dos progenitores. Os pais devem aprender primeiro a se dominarem a si mesmos, e então poderão ser mais bem sucedidos em controlar os próprios filhos” (Testemunhos Seletos, vol. I, pág. 148).

“A criança não é um cavalo ou um cão para ser mandada autoritariamente segundo vossa imperiosa vontade, ou, em todas as circunstâncias, ser controlada com um cacete ou um chicote, ou com tapas” (Orientação da Criança, pág. 251).

Nossos filhos precisam ser tocados
Devido aos inúmeros incidentes de abuso e molestamento de crianças, tem havido muita preocupação acerca dos afagos que nossos filhos recebem. Isso é particularmente verdade em creches, escolas e em atividades relacionadas com a igreja.

A parte boa de toda essa ênfase é que nos tornamos conscientes dos danos de um toque inconveniente. Aprendemos que há conseqüências de longa duração quando se tira proveito da natureza confiante de uma criança. Estamos ensinando às crianças os seus direitos e como proteger-se desse terrível tipo de abuso.

Tem havido um triste reverso dessa preocupação, a saber, a relutância e por vezes recusa dos envolvidos em tocar as crianças, mesmo de forma benigna. As crianças que costumavam receber abraços na escola ou sentar-se no colo da professora em busca de conforto, podem agora ficar sem receber um toque, e carentes desse tipo saudável de comunicação.

Até os pais passaram a conscientizar-se de seus hábitos de tocar, especialmente em relação com filhos que estão chegando à puberdade e adolescência. Alguns pais, em casa, não abraçam mais as filhas por medo de serem mal-interpretados. Isso é perturbador, pois não tocar uma criança é mais do que um risco para o seu crescimento e desenvolvimento geral. Evitar um toque e o apropriado tipo de intimidade que ele gera, deixa a criança ainda mais suscetível a ser molestada. Nega-se à criança a oportunidade de aprender sua função numa intimidade honesta e aberta.

Nunca ficamos velhos demais a ponto de não sentir a necessidade de um toque e a conseqüente sensação agradável de aceitação que ele produz. Já se demonstrou que crianças pequenas podem ficar gravemente doentes sem um toque amoroso. Crianças ou adultos emocionalmente carentes podem sofrer danos psicológicos quando se retém deles o toque. Às vezes as crianças ficam retraídas ou regridem; outras tentam assumir comportamentos indevidos para obter um toque.

As pessoas que lidam com crianças devem ter a certeza de poderem usar tipos adequados de carinho. Quando numa confrontação consigo mesmas podem afirmar que o afago não foi para suprir suas próprias necessidades, mas para o benefício da criança, estão em condições de demonstrar seguramente o seu carinho. Nunca foram apropriados os toques muito freqüentes ou o toque em áreas genitais. Mas tapinhas gentis e abraços, ou o ato de sentar uma criança no colo, é pertinente quando traz conforto, segurança e transmite a certeza do valor da criança.

Os pais precisam entender que seus filhos vão procurar afagos – fora de casa, se isso não fizer parte do relacionamento com os pais. Aquilo que é apropriado para um bebê pode não sê-lo para um adolescente, mas em vez de pôr fim a alguma coisa que pode ser tão importante no desenvolvimento de uma criança, que haja cuidadoso interesse em imitar os “toques suaves” que Cristo usava em Seu ministério. (Ver O Desejado de Todas as Nações, pág. 516.)