É necessário conhecermos melhor alguns detalhes da profecia, para não ficarmos em dúvida quanto ao nosso legado histórico e teológico, e nos sentirmos seguros para defender nossa identidade profética.

O CHIFRE PEQUENO

I. Quem é o chifre pequeno de Daniel 8?

O bode se engrandeceu sobremaneira; e, na sua força, quebrou-lhe o grande chifre, e em seu lugar saíram quatro chifres notáveis, para os quatro ventos do céu. De um dos chifres saiu um chifre pequeno e se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa. Cresceu até atingir o exército dos céus; a alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao príncipe do exército; dele tirou o sacrifício diário e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo. O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou. Depois, ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados? Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado .” – 8:8-14.

O bode de que trata a profecia é a Grécia (vv. 21-22). Os 4 chifres notáveis do império grego foram os 4 generais que sucederam Alexandre, o Grande: Ptolomeu, Cassandro, Lisímaco e Selêuco.

Na versão Almeida Revista e Atualizada (uma das mais utilizadas no Brasil), o v. 9 começa com a expressão: “de um dos chifres”. Porém, o original hebraico traz o seguinte: “de um deles”. Esta tradução é confirmada pela respeitada King James Version , em inglês.

É importante analisarmos o detalhe acima, porque o texto em português dá a entender que o chifre pequeno surgiu “dos outros 4 chifres”, ou seja, ele seria proveniente do império grego. Os que defendem esta teoria (os chamados preteristas ), como a maioria dos evangélicos e católicos, dizem que este chifre pequeno é representado por ANTÍOCO EFIFÂNIO. Eles apresentam os seguintes argumentos:

a) Antíoco foi um rei selêucida – Como membro desta dinastia de reis, ele surgiu de um dos 4 chifres mencionados em Dn 8:8, pois esta foi a origem do chifre pequeno.

b) A sucessão de Antíoco foi irregular – Este argumento está baseado no v. 24 do cap. 8.

c) Antíoco perseguiu os judeus.

d) Ele contaminou o templo de Jerusalém e interrompeu seus serviços.

Porém, um estudo mais acurado da Bíblia e da história nos mostra que Antíoco não satisfaz os requisitos para o poder representado pelo chifre pequeno de Daniel. A natureza do chifre pequeno rejeita Antíoco como sua identidade:

a) Grandeza comparativa do chifre pequeno.

O verbo “engrandecer” (GADAL) aparece somente uma vez em relação com
à Pérsia e somente uma vez com relação à Grécia. Porém, aparece 3 vezes relacionando-se ao chifre pequeno. Mostra-se que o chifre teria um poder progressivo e crescente, até o tempo do fim (vv. 17, 19, 26).

b) Atividades do chifre pequeno: conquistas, atividades anti-templo.

c) Fatores de tempo para o chifre pequeno: origem, duração, fim.

Antíoco permaneceu no poder por pouco tempo (de 175 a.C. até 164/3 a.C.). Era o 8º de uma dinastia de mais de 20 reis selêucidas.

d) Natureza do chifre pequeno – conforme a profecia, este chifre seria “quebrado sem esforço de mãos humanas” (v. 25). Isto mostra a maneira singular com que o chifre seria derrotado. Ou seja, o próprio Deus intervirá para colocar um fim à perseguição de Seu povo, produzida por este poder blasfemo e arrogante. O que não ocorreu com Antíoco, que morreu de causas naturais durante uma campanha pelo Oriente.

e) Origem do chifre pequeno.

Como mencionado acima, há um problema na tradução do início do verso 9, pois o original hebraico afirma que o chifre pequeno sairia “de um deles”, fazendo referência aos 4 ventos citados no final do verso 8.

A tradução correta do texto sugere que o chifre pequeno sairia de um dos 4 ventos, ou seja, de um dos 4 pontos cardeais. Roma veio do lado Oeste, e cumpre todos os demais requisitos para que o chifre pequeno seja identificado com sua fase papal, principalmente.

II. Algumas Características Importantes (Dn 8:19-26)

1. Ele sobe no meio dos 10 chifres do animal, após derrubar 3 deles – o chifre surgiria do império romano, e abateria 3 dos 10 reinos que formaram este império (foram 3 destes 4 reinos: Visigodos, Vândalos, Hérulos e Ostrogodos).

2. Ele possuía olhos, como os de homem, bem como uma boca “arrogante” e “insolente” – o poder representado pelo chifre pequeno é um poder temporal, religioso e com pensamentos arrogantes e orgulhosos relativos ao seu alcance de dominação mundial.

3. O chifre pequeno parecia mais “robusto” do que os seus “companheiros” – ele conseguiria em certo momento dominar até mesmo o poder temporal, bem como o religioso.

4. Fazia guerra contra os santos e prevalecia contra eles – seria um perseguidor daqueles que desejassem permanecer fiéis às leis de Deus, e rejeitarem a contrafação que o chifre pequeno apresentaria ao mundo.

5. Proferiria palavras contra Deus – sua pretensão seria tal que até mesmo as prerrogativas divinas este poder tomaria para si.

6. Magoaria os santos de Deus – a perseguição seria feroz e grande.

7. Mudaria os tempos e a lei – o sábado da lei de Deus seria alterado por um outro dia de guarda, em obediência total ao poder do chifre pequeno.

8. Dominaria os santos por 3,5 tempos (1260 anos. Cf. Dn 4:16, 23, 25, 32; 7:25; 11:13; 12:7; Ap 11:2, 3; 12:6, 13; 13:5) – durante este período de tempo, os santos estariam quase que totalmente à mercê das sangrentas perseguições do chifre pequeno (538 AD a 1798 AD).

9. Seria julgado pelo tribunal divino, e destruído – chegará o momento em que Deus mesmo intervirá definitivamente, e o chifre pequeno com todos os seus seguidores serão destruídos ante a autoridade do Deus Eterno.

Não há como fugir da realidade histórica de que apenas um pode encaixa-se nas características reveladas em Daniel sobre a identidade do chifre pequeno: ROMA, EM SUAS FAS ES PAGÃ E PAPAL: 1. Veio após o império grego; 2. Foi um poder forte e dominador; 3. Conseguiu prevalecer sobre o reino temporal e religioso; 4. Dominou o mundo por 1260 anos de perseguição religiosa; 5. Colocou um sistema de intercessão para obscurecer o sistema do Santuário de Israel; 6. Proferiu blasfêmias e arrogâncias, ostentando-se como possuidor das prerrogativas da Divindade; 7. Alterou a própria lei de Deus, exatamente no elemento de tempo da lei – o sábado (Êxo. 20:8-11).

Mais uma vez, os Adventistas saem ganhando por utilizarem o mesmo método que Jesus utilizava para interpretar as Escrituras, ou seja, O MÉTODO GRAMÁTICO-HISTÓRICO, que permite que a própria Bíblia se revele no estudo da história das nações.

Os preteristas, que colocam os cumprimentos de Daniel e de Apocalipse, quase que totalmente no passado, não resistem a um estudo cuidadoso e profundo das profecias.

Vivemos no limiar dos últimos dias, quando aquela “pedra” de Daniel 2 será jogada dos céus, e um reino eterno será instituído, cujo poder e autoridade permanecerão pelos séculos dos séculos. Amém!

 

Dn 8:14 – A Maior Profecia da Bíblia

- Parte II -

No estudo anterior, analisamos como o poder papal alterou o sistema de interseção e mediação de Cristo, e colocou um outro sistema em seu lugar. O ente celestial anunciou que esta usurpação duraria 2300 anos, chegando até o tempo do fim. Na presente lição veremos os detalhes sobre o início, desenvolvimento e fim dos 2300 anos, e a profetizada vindicação do santuário celestial.

INÍCIO DOS 2300 ANOS

Daniel não entendeu o significado completo da visão que recebera, e isso trouxe um sentimento de enfraquecimento físico e mental sobre ele (cf. 8:27). O capítulo 9 inicia com uma oração de Daniel para que o Senhor o ilumine sobre o significado do importante período de dominação do “chifre pequeno” (poder papal) sobre o povo de Deus. E o Senhor o orienta sobre isso.

O anjo Gabriel, o mesmo que anunciou a visão inicialmente (cf. 8:16), é agora enviado para explicar mais detalhadamente o desenvolvimento da visão dos 2300 anos para Daniel. Como um “selo” sobre a profecia, encontramos um período especial de tempo de 70 semanas (ou 490 anos) que seriam “determinados” (do heb. CHATHAK) sobre o povo de Israel. Estas 70 semanas marcariam o início dos 2300 anos, selando a visão e a profecia (9:24).

“desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém” (v. 25).

Houveram 3 decretos principais de restauração sobre Jerusalém, que na época de Daniel estava em ruínas, devido às invasões babilônicas de 605 a.C., 597 a.C. e 586 a.C.:

1º decreto : de Ciro, em 537/538 a.C., que concede permissão para reconstruir o templo em Jerusalém (Esdras 1:1-3)

2º decreto : de Dario I Histaspes, em 519/520 a.C., que dá autorização para que se continue a reconstrução, porém com garantias financeiras (Esdras 6)

3º decreto : de Artaxerxes I Longímano, em 457 a.C., que liberta completamente o povo judeu da servidão à Pérsia, dando-lhes autoridade para reconstruir o Estado israelita (Esdras 7:1-13)

* Artaxerxes ainda promulgou um decreto extra, em 444 a.C. (cf. Neemias 1 e 2), apenas complementando o de 457 a.C.

Qual o decreto que deve ser utilizado para o início da profecia de Dn 8:14?

Apenas o 3º decreto, o de 457 a.C., concedeu a Jerusalém o seu renascimento legal, pois autorizou a indicação de magistrados e juízes e, em particular, restabeleceu as leis judaicas como base do governo local, restaurando Jerusalém como capital do reino.

Há 4 linhas de evidências históricas que permitem definir com precisão a data do decreto de Artaxerxes:

a) As olimpíadas

b) O cânon de Ptolomeu

c) O Papiro Elefantino

d) Os tabletes cuneiformes babilônicos

Portanto, a profecia de Dn 8:14 tem seu início no ano de 457 a.C.

DESENVOLVIMENTO DAS 70 SEMANAS

As 70 semanas (490 anos) cobririam vários eventos históricos que confirmariam a precisão da profecia. O período é simbólico porque os eventos abrangidos são de ampla margem temporal, indo até o Messias, o que descarta a possibilidade de um período literal de 490 dias.

“tempos de angústia” (v. 25)

As nações vizinhas a Israel foram fortes inimigos para a reconstrução da nação, pois Israel estava enfraquecida psicológica e militarmente pelo exílio em Babilônia (cf. Esdras 4).

“o ungido” (v. 25)

O Messias vindouro – Jesus.

“o messias será morto” (v. 26)

Ele não viria para reinar, mas para morrer. Jesus cumpriu cabalmente a profecia.

“o príncipe”, “o povo” (v. 26)

O Príncipe é Jesus, e o povo é Israel.

“o povo de um príncipe que há de vir”, “dilúvio” (v. 26)

Jerusalém seria violentamente destruída, o que ocorreu no ano 70 d.C., quando os romanos invadiram a cidade de forma sangrenta e destrutiva.

“fará firme aliança com muitos por uma semana” (v. 27)

Na última das 70 semanas, o Messias firmaria Sua aliança com os judeus. Aceitando o Messias, eles se livrariam das terríveis conseqüências profetizadas.

“santo dos santos” (v. 24)

Esta expressão (QOD ES H QOD ES HIM) é usada 30 vezes no AT, sempre em relação com o santuário, e nunca é usada em relação a pessoas (exceto em 1Cr 23:13). Trata-se aqui de uma referência ao santuário celestial.

Ano 457 a.C. : início da profecia

Ano 27 d.C. : fim das 69 semanas iniciais. Data do batismo de Jesus, o Ungido (v. 25)

Ano 34 d.C. : fim da última semana, completando as 70, e foi o ano do apedrejamento do 1º mártir cristão – Estêvão.

FINAL DOS 2300 ANOS

Vimos que as 70 semanas eram um “selo” sobre a profecia, pois acompanhando os eventos históricos que ocorreriam neste período, poderíamos comprovar os demais eventos que teriam lugar no céu, longe da vista do homem.

Em 1844 d.C. completou-se o período profético de 2300 anos de Dn 8:14, e nesta data ocorreu a “purificação” ou “vindicação” do santuário celestial, como vimos no estudo anterior.

Nesta data, Jesus iniciou a obra de vindicação do santuário, cumprindo o simbolismo que ocorria no Dia da Expiação do santuário de Israel (ver Lev. 16). Em 1844 Jesus passou do lugar Santo, ao Santíssimo, iniciando a obra de Sumo-Sacerdote em nosso lugar. Ele não deixou de ser nosso Intercessor, nem o passou a ser apenas em 1844; mas agora Ele “acumula” a função de Sumo-Sacerdote, como ocorria com os filhos de Arão no Dia da Expiação.

Como estava profetizado (Dn 8:13-14), em 1844 iniciou a restauração do santuário, ou seja, as pessoas passaram a estudar e entender melhor este importante tema bíblico. Isto levou ao surgimento do Movimento Adventista, que por sua vez deu origem à Igreja Adventista do Sétimo Dia, oficializada em 1863.

Vemos que esta importante profecia nos conduz de forma precisa e confiante até os eventos que cobririam a vida terrestre de Jesus, o Messias. Com a confirmação de todos estes eventos, podemos ficar certos de que o restante da profecia (a purificação e vindicação do santuário) também ocorreu de modo preciso, e em 1844 iniciou-se o chamado Juízo Investigativo, como ocorria no Dia da Expiação, e que traz libertação para o povo de Deus, logo antes da volta de Jesus.

Confiantemente, podemos dizer:

MARANATA!