Quando perguntaram a Mortimer Adler por que a seção “Deus” era a maior na série Grandes Livros do Mundo Ocidental (da qual ele foi o editor), ele sabiamente observou que isso se devia ao fato de mais implicações derivarem do assunto “Deus” do que de qualquer outro. Na verdade, as cinco perguntas mais importantes da vida são:
- Origem: De onde viemos?
- Identidade: Quem somos?
- Propósito: Por que estamos aqui?
- Moralidade: Como devemos viver?
- Destino: Para onde vamos?
As respostas a cada uma dessas perguntas dependem da existência de Deus.
Se Deus existe, então existe significado e propósito para a vida. Se existe um verdadeiro propósito para sua vida, então existe uma maneira certa e uma maneira errada de viver. As escolhas que fazemos hoje não apenas nos afetam aqui, mas também na eternidade. Por outro lado, se Deus não existe, então a conclusão é que a vida de alguém não significa nada. Uma vez que não existe um propósito duradouro para a vida, não existe uma maneira certa ou errada de viver. Não importa de que modo se vive ou naquilo em que se acredite, pois o destino de todos é o pó.
Portanto, que religião mundial é capaz de responder corretamente à pergunta sobre Deus? Será que alguma religião é capaz de oferecer a verdadeira tampa da caixa da vida? A sabedoria comum diz que não, por uma série de razões.
Em primeiro lugar, muitos dizem que não é racional acreditar que uma religião possa ser a única verdadeira. Se uma religião fosse realmente a única verdadeira, isso significaria que bilhões de pessoas religiosas de outras religiões estariam erradas hoje e que seus adeptos historicamente estiveram errados por vários séculos (isso é um grande problema se o cristianismo é a verdadeira religião, pois ele parece ensinar que todos os não-cristãos vão para o inferno!). Existe o medo — não infundado — de que aqueles que pensam possuir a verdade serão intolerantes com aqueles que não a aceitam.
Pessoas despreocupadas tendem a acreditar que nenhuma religião é a verdadeira. Esse sentimento é freqüentemente ilustrado pela parábola favorita de muitos professores universitários: a parábola dos seis homens cegos e o elefante. Ela fala sobre a maneira pela qual cada cego sente uma parte diferente do elefante e que, portanto, chega a uma conclusão diferente sobre o objeto que está diante dele. Um deles toca nas presas e diz: “É uma lança!”. Outro segura a tromba e diz: “É uma cobra!”. Aquele que está tocando as pernas diz: “É uma árvore!”. O cego que está segurando a cauda pensa: “Estou segurando uma corda!”. Aquele que segura as orelhas conclui: “É uma ventarola!”. Por fim, aquele que está ao lado do elefante afirma: “É uma parede!”. Diz-se que esses homens cegos representam as várias religiões mundiais, porque cada um apresenta uma diferente conclusão sobre aquilo que está sentindo. As pessoas dizem que, tal como cada um dos cegos, nenhuma religião detém a verdade. Nenhuma religião tem a tampa completa da caixa. As religiões são simplesmente caminhos diferentes que levam ao topo da mesma montanha. Assim, naturalmente, isso é um apelo fortíssimo à mente amplamente tolerante.
Nos Estados Unidos, a verdade na religião é considerada uma contradição.
Diz-se que não existe verdade na religião. Tudo é uma questão de gosto ou opinião. Você gosta de chocolate, eu gosto de baunilha. Você gosta do cristianismo, eu gosto do islamismo. Se o budismo funciona para você, então ele é a verdade para você. Além do mais, você não me deve julgar por minhas crenças!
O segundo grande problema relativo à verdade na religião é que algumas peças da vida parecem desafiar a explicação: elas não se encaixam em nenhuma tampa religiosa. Nesta lista, podemos incluir a existência do mal e o silêncio de Deus diante desse mal. Essas são objeções particularmente significativas a qualquer pessoa que afirme a existência de um Deus todo-poderoso (teísmo). Muitos céticos e ateus argumentam que, se um Deus único e poderoso realmente existe, então ele deveria intervir para acabar com toda a confusão. Além do mais, se Deus realmente existe, então por que parece esconder-se? Por que simplesmente não aparece para desbancar as falsas religiões e pôr fim à controvérsia? Por que não intervém para eliminar todo o mal do mundo, sem deixar de fora todas as guerras religiosas que são uma mancha para seu próprio nome? E por que permite que todas essas coisas ruins aconteçam com pessoas boas? São perguntas difíceis para qualquer um que afirme que sua religião teísta é a verdade.
Por último, muitos intelectuais de hoje concluem que nenhuma tampa baseada na religião seria legítima. Por quê? Porque, dizem eles, somente a ciência pode descobrir a verdade. A evolução não apenas removeu a necessidade de Deus, dizem eles, mas apenas aquilo que é passível de teste de laboratório pode ser considerado verdadeiro. Em outras palavras, somente a ciência lida com os fatos, enquanto a religião permanece meramente no campo da fé. Desse modo, não há sentido em tentar reunir provas ou fatos para apoiar uma religião, porque isso seria como reunir faros para provar que o sorvete de chocolate é melhor que o de baunilha. Você não pode provar preferências. Portanto, uma vez que eles insistem em que religião nunca é assunto de fatos objetivos, mas meramente de gosto, qualquer tampa de caixa que seja derivada de uma religião não poderia fornecer o quadro objetivo da vida que estamos procurando.
Mas aonde tudo isso nos leva? Será que a busca por Deus e pela tampa da caixa da vida é vã? Deveríamos pressupor que não existe sentido objetivo na vida e que cada um inventa sua própria tampa da caixa? Deveríamos contentar-nos com a resposta “eu não sei” do professor universitário?
Achamos que não. Cremos que existe uma resposta real. Apesar das fortes objeções que identificamos (as quais abordaremos nos capítulos seguintes), acreditamos que a resposta é bastante racional. Na verdade, acreditamos que essa resposta é a mais racional e a que exige menos fé do que qualquer outra resposta possível, incluindo a opção de ser ateu. Vamos começar a mostrar o que queremos dizer.
Que Tipo de Deus?
Antes de seguirmos adiante, vamos nos certificar de que estamos usando a mesma terminologia. A maioria das principais religiões mundiais encaixa-se em uma dessas três categorias de visões religiosas: teísmo, panteísmo e ateísmo.
O teísta é a pessoa que acredita num Deus pessoal criador do Universo, mas que não é parte do Universo. Isso seria mais ou menos equivalente ao pintor e à pintura. Deus é o pintor, e sua criação é a pintura. Deus fez a pintura, e seus atributos estão expressos nela, mas Deus não é a pintura. As principais religiões teístas são o cristianismo, o judaísmo e o islamismo.
Em contraste, uma pessoa panteísta é alguém que acredita num Deus impessoal que literalmente é o Universo. Assim, em vez de fizer a pintura, os panteístas acreditam que Deus é a pintura. O faro é que os panteístas acreditam que Deus é tudo o que existe: Deus é a grama, Deus é o céu, Deus é a árvore, Deus é este livro, Deus é você, Deus sou eu etc. As principais religiões panteístas são orientais, tais como o hinduísmo, algumas formas de budismo e muitas formas da “Nova Era”.
Um ateu, naturalmente, é alguém que não acredita em nenhum tipo de Deus. Seguindo nossa analogia, os ateus acreditam que aquilo que se parece com uma pintura sempre existiu e ninguém a pintou. Os humanistas encaixam-se nessa categoria.
Veja a seguir uma maneira fácil de memorizar essas três visões religiosas: teísmo — Deus fiz tudo; panteísmo — Deus é tudo; ateísmo — não há Deus. (Na figura 1.2, o teísmo é representado pela mão que segura o mundo; o panteísmo, pela mão no mundo; e o ateísmo, como nada a não ser o mundo.)
As três principais visões religiosas mundiais
Teísmo | Panteísmo | Ateísmo |
Deus fez tudo | Deus é tudo | Não há Deus |
Judaísmo
Cristianismo Islamismo |
Zen-budismo
Hinduísmo Nova Era |
Humanistas |